quinta-feira, 27 de março de 2014

As faces e a criatura

Sou transparente. Ou aparento ser assim. Na realidade, sou tão transparente, que não permito que as pessoas percebam que existem milhares de coisas escondidas em mim, ou faço com que elas acreditem pisar em solo firme, não se preocupando em saber mais. Melhor ainda: tenho inúmeras faces, e honro cada uma com intensa transparência.

Uma de minhas frases favoritas é "seja a melhor versão de você mesma". Acredite, me esforço para isso, todos os dias, e quem está perto tem a sorte de conviver um pouquinho com este pedaço. Tento convencer a mim mesma de que dou a "melhor" versão que as pessoas merecem; mas sou humana, cometo muitos erros. Tanto que meu subconsciente costuma adotar "mantenha distância de qualquer pessoa, não as deixe se aproximar realmente, engane-as com a falsa ideia" como lema de vida. 

Sou uma fraude. Achei que seria difícil admitir, mas não é. Talvez isso não passe de uma de minhas brigas internas, apenas um momento ruim, porém não deixa de ser a verdade. Cresci protegida por uma casquinha de gelo, resistente às mais quentes temperaturas. Tão transparente, passa despercebida por algumas pessoas, e torna-se o desafio de quem se arrisca a quebrá-la. Na real, de quem eu permito que se arrisque. 

Enquanto as "faces" que estão fora da casquinha brigam para ver quem aparece mais, existe uma criatura por trás dela, que sofre em silêncio. Acostumou-se com a solidão, mas está gritando por alguém que lhe ofereça um apoio. Pois fora criada para ser humana, não um personagem dos livros que tanto lê; e nem eles conseguem passar a vida sozinhos. 

As faces, tão acostumadas com o público, e a criatura, que o teme, mas o deseja. Tantos seres dentro de um só, que não é de se surpreender que hajam explosões de vez em quando; mas, infelizmente, nada que consiga destruir a casquinha de gelo.

sexta-feira, 21 de março de 2014

De espírito livre.


Sempre me orgulhei ao dizer que sou um espírito livre. Difícil de ser controlada, impossível de estar, e ficar, em um lugar só. Em meu coração existe uma pessoa apaixonada por este mundo, que deseja conhecê-lo por completo. Que teme, e não consegue, se envolver realmente com outro ser; pois ao sentir que está sendo observada, recua com medo de perder a liberdade.
Pra mim, sempre foi essa a explicação: não posso ser "dominada". Cega com a ideia, segui vivendo meus dias, e quando desejava descansar por um tempo, sempre encontrava um motivo para fugir, mesmo quando não haviam motivos. E ao perceber que a solidão já passara dos limites, resolvi encarar meus medos, mente e escolhas, encaixando peça por peça, tentando descobrir o que há de errado... 
                                                                    ...
Apenas aqueles que têm coragem o suficiente para cavar fundo nos problemas e no desconhecido, merecem a verdade. E foi o que aconteceu comigo. Resolvi esquecer o medo que tinha de mim mesma, e mergulhar no subconsciente. E foi ali, que tudo o que eu achava que conhecia, mudou. 
O espírito livre que um dia achei existir dentro de mim, luta há 18 anos contra as próprias correntes. Está preso, gritando, sofrendo, tentando se soltar; mas nunca vira prisão tão resistente quanto a que criou para si mesmo.

domingo, 16 de março de 2014

O resto da minha vida

Há um mês iniciei a faculdade. E não só a faculdade, mas uma “nova” maneira de viver. Ou talvez, a velha. Aquela que eu estava acostumada, aquela que me fazia sorrir ao dormir. Mas de antigo, não há nada; na verdade, é tudo muito novo, esquisito e assustador – o que me fez amar ainda mais! 
Tenho conhecido pessoas incríveis, que estenderam a mão e se mostraram diferentes. Cada uma despertando meu desejo de aprender sobre elas. E também, a vontade de querer que, algumas, permaneçam por muito tempo ao meu lado. 
É engraçado ler algo assim de minha autoria, não é? Tão “informal”, ou sei lá, tão “direto”. Admito, há muito tempo eu não me sentia como me sinto agora. Ou, parte de mim. Afinal, ao olhar pra dentro, encontro feridas, cicatrizes e “doenças” que ainda não foram curadas. Gostaria de me permitir, por um momento, abraçar o presente, abraçar o que está perto. Mas não é possível. Existem coisas que precisam ser cuidadas, coisas que precisam de mim. E com toda a certeza, não as deixarei; pois são elas, que no final de tudo, serão meu conforto e felicidade
Mas para dois amigos antigos, tenho um recado: irão ficar para trás, e eu juro, que irei me esforçar para que nenhum de vocês chegue perto novamente. Eles entendem o grau disso, e já devem estar se preparando para contra atacar, o problema é que dessa vez eu tenho vontade de vencer – e vou
E quando penso nesses amigos, penso nas pessoas que estão entrando em minha vida, e até que ponto elas devem me conhecer. Afinal, aparento ser comunicativa, aberta ao público e simpática. Concordo que não consigo passar antipatia, e muito menos ficar de bico calado. E sim, me abro ao público, mas só com o que quero. Todo mundo tem um lado que ninguém conhece, um que poucos conhecem, e um que todos conhecem. Por enquanto, tenho me agarrado ao que todos conhecem... Chega de olhar pra dentro, é hora de ver o mundo com outros olhos. 
Vivi por muito tempo lutando diariamente. Não só as minhas guerras, mas as de quem estava ao meu lado. Durante a semana não tenho pensado muito nisso, qualquer coisa que me distraia é bem-vinda. O que me assusta, e me leva a perguntar se estou escondida na superficialidade novamente. Pois quando o efeito do “agito” está passando, lágrimas tentam escapar. Porém, ainda estou sozinha aqui, como sempre estive em qualquer lugar, o que me faz lutar para esquecer tudo rapidamente, e voltar a sorrir. 
Quem sabe alguém deste mundo novo – com um toque de velho – não consiga se aproximar de verdade, e amoleça meu coração? Quem sabe eu não encontre o amigo que tanto procuro, aquele com o qual conseguirei extravasar tudo o que me incomoda? Quem sabe eu até não me apaixone (o que seria um milagre dos céus)? O melhor disso tudo, é que eu não sei. Não sei, não sei, não sei!!!!! Estou pronta para rir do futuro e focar no presente, absorvendo cada sorriso, cada novidade, mas principalmente, cada pedaço do resto da MINHA vida.