quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sorvete de pistache.


Ele amava sorvete de pistache. Disse isso a ela em uma de suas primeiras conversas. Naquele dia, ela passou a amar sorvete de pistache, também. Eles acabaram se envolvendo, ficaram juntos, mas um dia acabou. O que não acabou, fora o sorvete de pistache. Nas noites em que seu coração enfraquecia, a saudade retornava, e a dor aumentava, ela comia sorvete de pistache. Afinal, aquele creme gelado significava reviver a história. Lembrar o quão doce era, o quão apaixonante era, e o quanto ela o amava. Sorvete de pistache havia se tornado, para ela, o que a bebida é para um alcoólatra; vício. No entanto, comer sorvete de pistache não o traria de volta, apenas a engordaria. E o temor era de ela só perceber isso quando estivesse prestes a explodir. Mas como aprendera a gostar do sorvete de pistache, deveria aprender a parar de comê-lo, questão de costume. Só assim, estaria de estômago vazio para provar novos sabores.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Já perdi muitas coisas.

Já perdi muitas coisas. Perdê-las muitas vezes me trouxe alívio, outras, desespero. Acabei vivendo momentos na escuridão, terríveis, árduos. Sobrevivi, talvez venci, mas sempre que a luz enfraquece, os sentimentos retornam, assombrando meus piores pesadelos.
Mesmo com tempestade pós tempestade, eu nunca aprendia. Seguia o mesmo vento, entregava-me aos redemoinhos, caía do penhasco. Alguma coisa dentro de mim suplicava por ajuda, e ao mesmo tempo, a temia. Pois maior era o medo do que havia lá fora. Afinal, é mais fácil acomodar-se na terra que já tens conhecimento, do que aventurar-se em reinos desconhecidos, não é? Por mais que viver nesta terra significasse ser escravo. Escravo da própria dor; escravo de outro - cruel - alguém; escravo do desespero mais profundo, que habitava o coração. Escravo de si mesmo. E foi tentando me escravizar, que acabei me perdendo.
Já perdi a cabeça, muitas vezes. Já machuquei a mim mesma, milhares de vezes. Já perdi a esperança, também. Mas nada fora pior do que perder a mim mesma. E foi assim, finalmente, que eu compreendi: quando tudo estiver escuro, diante da solidão só terei a mim, e apenas isso me dará forças para acender a luz.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Toda a mágica tem seu preço.

Toda a mágica tem seu preço. Aprendi isso assistindo a um seriado na TV; e por tanto repetirem a frase, acabei passando a acreditar nela. Mentira, acreditei porque, através de minhas experiências, vi que era a verdade.
Meu pai sempre diz que não posso abraçar o mundo, mas a vontade de sentir um pouco de tudo, deixam meus braços possíveis disso, porém, não fortes para isso. Quis ter tudo, e acabei sem nada. Descobri que era necessário sacrificar algumas coisas, para o meu próprio bem, para o bem geral. Pois amar é libertar, viver é ser livre, ser livre é escolher. E escolha não é seguir os dois caminhos, apenas um.
Outra coisa que meu pai repete, "você precisa viver mais no mundo real, nem tudo é fantasia"; nisso devo discordar dele, e, ao mesmo tempo, concordar. Vivo meu conto de fadas da maneira que quero, faço o que quero, mas por viver tanto neste "mundo", esqueço o que há aqui fora. Tenho a mágica que desejo, mas pago um preço por isso. O preço de não ter experiências reais, com pessoas reais. A questão é que no fim das contas, eu sempre encontro uma forma de sentir o gostinho da realidade; engraçado, não é? Há momentos em que realmente sinto ter o melhor dos dois mundos.
É, talvez eu tenha, e sei disso porque paguei um preço. O preço de andar só, de abençoar amigos na jornada, mas seguir minha caminhada com a solidão. Não reclamo, gosto dela; o problema é o medo, o medo de, por muito andar equilibrada entre dois mundos, alguma hora desequilibrar e cair; sem ter alguém que segure minha mão.

domingo, 1 de junho de 2014

Histórias.

Amo escrever, desde que aprendi o sentido que as letras têm quando unidas. Lembro que, ao invés de assistir televisão ou brincar de boneca, gostava de criar histórias, modificar os clássicos e, até mesmo, escrever palavras avulsas, jogando com elas.
São lembranças como estas que mantêm a chama acesa. Aquela chama que, em alguns momentos, faz com que a voz grite "você nasceu para contar histórias, e, principalmente, para vivê-las." Desejos profundos, que só meu coração conhece, protegidos em uma zona segura, onde ninguém acessa.
Não, há acesso, sim, há. As palavras conseguem, são a chave. É por elas que me liberto, é através delas que todos nós encontramos um lar, mas é, também, por elas, que muitos corações são partidos. Ou, com a falta delas. E sim, estas pequenas, porém preciosas, "letras unidas", já me machucaram, e a falta delas também. A diferença é que eu vi seu lado bom, como faço com qualquer ser humano. E para mim, há mais vida em uma história - até mesmo contos de fadas-, do que em um próprio ser.
São estas histórias, "viajadas", que mantêm meus pés no chão. Creio que são uma das únicas chances que temos de sentir a magia, e talvez, encontrar o amor. Sim, acredito nele, como acredito em mágica. Existe em todos nós, a questão é que alguns não querem ver, e muitos já desistiram. Mas há esperança, aquela que preenche meu corpo quando abro um livro, ou escrevo o que sinto. Pois, se a menina protegida por muros consegue entregar o coração a um papel, por que não a alguém?